O ano era 1972. Estava eu em São Paulo, capital, alojado no Estádio do Pacaembu.
Fazia parte de
uma operação nacional do Projeto Rondon. Aguardava a partida para a cidade onde atuaria, Tarabai.
Eu e um monte de universitários. Eram todos estudantes do Norte e Nordeste brasileiros. Eu cursava
agronomia em Belém. Eram feitas reuniões diárias a fim de organizar os deslocamentos das equipes
para os municípios paulistas que receberiam o Projeto Rondon. Em um dos intervalos das diversas
reuniões do grupo todo, eu e mais dois colegas de equipe, decidimos passear pela cidade, enquanto
a hora da partida para o interior não chegava. Resolvemos ir caminhando para conhecer o centro da
capital paulista. Rodamos extasiados com a verdadeira cidade de concreto. Prédios e mais prédios.
Por volta de meio dia resolvemos voltar para o almoço. Como disse, todos estudantes universitários
e sem grana pra comer sequer um sanduíche. Foi na caminhada de volta para o alojamento do
estádio que tudo aconteceu. Já eram quase meio dia e precisávamos almoçar.
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Retornávamos
calmamente pela rua Beneficência Portuguesa, centro, quando de repente passa em nossa frente em
direção ao meio-fio, um senhor de paletó. Cruzamos sem parar. Porém, milésimos de segundos
adiante, minha memória aflorou de forma límpida e cristalina e disparou um sinal como se fosse
uma sirene: – Eu conhecia aquela pessoa!-- pensei. Ao mesmo tempo voltei o rosto em direção a ela
e instintivamente gritei! – Ei, Tio Joca! – Dei um grito sem pensar ou avaliar a situação de um
possível constrangimento.
Ele bruscamente parou, virou-se pra mim e sorrindo escancaradamente,
me respondeu: – Você é o Carlos José, filho do mano Lindalvo, que mora em Belém do Pará?! –
falou ele.
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Da esquerda para a direita: Tio José, palmeirense fanático; Tio Sinfrônio; Tio Joca, meu padrinho; Meu saudoso pai, Lindalvo; e, meu tio Antônio. |
Não deu tempo nem pra responder. Nos abraçamos. – Vamos, venham comigo. Vamos
almoçar em casa! – falou ele abrindo a porta do carro que estava estacionado bem em frente da
gente. Seguimos todos. Apresentei meus colegas a ele, contei de nosso objetivo ali e começamos a
conversar. Uma conversa amistosa, alegre e cheia de recordações. Relembramos a última vez que
tínhamos nos encontrado presencialmente, como se diz hoje. Quase dez anos atrás. 1965! Eu tinha
quatorze anos! E assim fomos. Meus colegas ficaram a maior parte do tempo calados, talvez,
tentando entender toda a inusitada situação. Ao aproximar-se de sua casa, alguns minutos adiante,
ele começou a manobrar para estacionar. Abruptamente reacelera o carro e não pára. Ficamos todos
espantados sem entender o que estava acontecendo. – Tão vendo esses dois – falou ele apontando
para dois sujeitos que vinham em passos acelerados em direção ao carro do meu tio. – São
bandidos! Iriam nos assaltar! Engolimos em seco e seguimos com ele. – Vou dar a volta no
quarteirão e esperar eles sumirem. E assim ele fez. Voltamos e estacionamos, agora em segurança
na frente da casa do meu padrinho Tio Joca. Almoçamos todos, conversando e relembrando a
família. O resto do dia foi só alegria e recordações. Ao final, ele foi nos deixar na frente do estádio
do Pacaembu. Penso que esta tenha sido a maior, das maiores coincidências de minha vida!
(*) Esta crônica foi originalmente publicada em:
https://www.webartigos.com/artigos/a-maior-coincidencia-do-mundo/166691
Porém, sem imagens.
__________________________________________________________(*) Imagens capturadas na internet e do arquivo da família.